domingo, 26 de novembro de 2006

embrião congelado

Embora eu esteja realizando um trabalho reconhecidamente marcado pela excelência, financeira e ideologicamente recompensador e tenha estruturado uma rotina equilibrada que eu tanto quis pra mim, vez ou outra minha alma se revela mortificada.
Sinto falta da maneira libertina e libertária com a qual vivenciávamos um ao outro. Continuo produzindo literatura e gritando ao mundo, a infernos, e aos céus o meu amor etéreo por você. Amor esse que deixa uma lacuna incomensurável em meu ser.
Hoje me sinto moralmente confortável por estarmos longe um do outro sem chance de cometer os pecados carnais que tanto me foram caros. Mas esta paixão maldita devora-me o peito e algumas noites de sono. Não consigo sentir-te como algo bom que me conforta e me descansa. E nem com ele isso ocorre. Mas saber que existes e que por alguns momentos entrelaçamo-nos mesmo que torpe, mesmo que descompassadamente, alimenta meu espírito. Esta inquietude me impulsiona a empreender esforços sobre-humanos e a realizar milagres dia a dia para o mundo.
Queria adivinhar-te, mas o máximo que consigo é inventar diálogos com você. E esse você que eu inventei às vezes me dá alento, às vezes me fere fundo.
A sua indiferença me deixa no vácuo. E foi por isso que desisti de te adivinhar. Pois não me lanças nenhuma fagulha, seja por teu pensamento, seja por invocar meu nome (e minha presença, veladamente) numa conversa com nossos amigos em comum, seja por tuas palavras incertas que me confundem, produzindo em mim essa ansiedade incontrolada.
Apagar-te da minha pele foi o que mais perto cheguei de anular teu ser que cresce em mim. Com o mais doce do amor te embalei. Com o mais puro de mim te afaguei. Mas nossas doenças nos afastaram.

Pois de tantas sementes lançadas a esmo que, talvez, se tivéssemos coragem de combater as ervas daninhas, algo de bom cresceria.
Infelizmente eu precisaria de você pra me ajudar a cuidar desse jardim. Pois nunca cresceram flores pra alegrar uma morada que poderia ser nosso templo.
Esperei tua visita pelo tempo que esse amor durou. E como ainda não aprendi a matar o amor, congelei esse sentimento, escondendo-o de mim, com aquela quase esperança de que um dia, quem sabe, a gente retome o sentido da vida, a ordem natural das coisas. Que de sóis e luas, estações derradeiras, no ciclo, tudo se fecha, tudo recomeça. Então é difícil encarar como projeto abortado, melhor seria dizer que é apenas um embrião congelado.

Arregaço as mangas. Olho pra dentro e ao redor. Ainda há muito por fazer. É muito bom ter a sensação de te esquecer.

Um comentário:

marie disse...

Cara Isabela,
O amor nos remete a comunicações de fusão... vivemos em meio a comunicações múltiplas; vibramos juntamente com milhares de outros indivíduos... papéis... textos... indivíduos virtuais... podemos ainda, em alguns casos comunicarmos com Deus...escrever é tudo isso que você faz.
Um beijo,
Tia Zezé